A Cabanagem contou, desde seu início, com a participação dos negros – libertos e escravos. A incorporação neste movimento, colocando entre suas reivindicações a liberdade dos escravos, visava evidentemente a abolição do regime servil e eneste sentido atuaram os “sectários das doutrinas incendiárias de Patriota” (cf. Rayol, Domingos Antônio. Motins Políticos, Vol. III, p.346.), um liberto de Belém, do negro Cristóvão, do negro Félix e outros.
“Emergindo dos mocambos e das senzalas ou afluindo dos quilombos ignotos, no seio das selvas e nas praias desabitadas, os escravos acostaram-se à causa cabana, com o objetivo da reconquista da liberdade” (Hurley, Jorge. Traços Cabanos, 1935. p. 209).
Esse autor relaciona 93 escravos participantes do movimento, mas admite que estes 93 “representam talvez a décima parte dos escravos cabanos”. De fato, na estatística não se incluem os cabanos negros comandados pelo mocambeiro Félix, que Rayol afirma serem acima de quatrocentos, refugiados depois no mocambo de Caxiú, no Acará, nem o bando do negro Cristóvão que comandou uma força de perto de 150 homens e era escravo do engenho do Carapuru. Para destruir este bando, o general Andréa mandou nada menos que três expedições. No encontro dos legalistas com os rebeldes, estes foram vencidos e os que se salvaram fugiram para os matos. Pela localização de Carapuru, presumimos que estes negros se estabeleceram, no lugar hoje chamado Pitimandeua, no atual município de Castanhal, constituindo um aldeamento de negros que até hoje se mantém mais ou menos isolado”.
(Salles, Vicente. O negro na Formação da Sociedade Paraense, 2004, p. 38)
Blog Luzes da Floresta – maio de 2006