Por Bruno Padron ”Porpeta”*
As finais da Libertadores da América, maior torneio do nosso continente, não foram exibidas para a TV aberta. A Rede Globo, detentora exclusiva dos direitos de transmissão, preferiu exibir dois jogos pelo Campeonato Brasileiro. Nada contra o torneio nacional, mas a final do torneio mais desejado por dez entre dez clubes brasileiros merecia maior atenção.
É indiscutível que a Libertadores é o torneio que mexe com as torcidas em todo o continente, principalmente no Brasil, país que come, bebe e respira futebol.
Os torcedores gostam de ver seu time ganhar até torneio juvenil. Tudo para sacanear os amigos no bar na segunda-feira. Mas a Libertadores é uma obsessão, uma obrigação. A possibilidade de disputar o Mundial Interclubes contra o campeão europeu e ver seu time superar os prognósticos que sempre apontam os times do velho continente como favoritos é de arrepiar qualquer brasileiro.
Com o Santos (1962/1963), Cruzeiro (1976/2007), Flamengo (1981), Grêmio (1983/1995), São Paulo (1992/1993/2005), Vasco (1998), Palmeiras (1999) e o Internacional (2006), o Brasil chegou ao título da competição. E como há quem diga que time grande que se preze tem que uma taça dessas em sua coleção, a vontade de quem ainda não chegou lá só aumenta a cada ano.
O Cruzeiro teve a oportunidade de levar a taça pra casa pela terceira vez em 2009, mas perdeu a final para o Estudiantes de La Plata (ARG), com uma exibição inspiradíssima de Verón, que aos 34 anos conduziu o jogo ao seu bel prazer, em pleno Mineirão.
Mas você, que ama futebol e conta seu dinheirinho todo mês para pagar as contas, não podendo pagar por uma TV a cabo, não viu. E já adianto, se o seu time não é do eixo Rio-São Paulo, não vai ver nunca uma final de Libertadores na TV aberta. Ou vai à casa de um amigo, ou a um boteco, mas no conforto da sua casa, tomando uma cervejinha, tranquilo, com a família, nem com reza brava!
Tudo isso porque a Rede Globo preferiu, imaginem só, adiar um jogo do Brasileirão entre Corinthians e Fluminense, no Pacaembu, que seria no domingo para quarta-feira, justamente o mesmo dia da primeira final da Libertadores.
Alguém pode até dizer que o Corinthians tem a 2ª maior torcida do Brasil, e a maior do estado mais populoso do país, mas se um canal de TV tem direitos exclusivos para transmissão de futebol, o maior evento do futebol na América do Sul entre clubes não deveria ser exibido?
Pois é, para a Globo pouco importa o futebol. Importa a audiência, essencial para os anunciantes, que afinal de contas, são os mandatários da programação televisiva brasileira. E isso é o futebol para a emissora, somente um espetáculo de audiência.
A opção pelo jogo do Corinthians, visava a explorar a boa imagem de Ronaldo perante torcedores de todo o Brasil. E também a visibilidade que esse time do Corinthians, campeão de tudo este ano, proporciona por ser um bom time, além de sua grande torcida.
Ou seja, o torcedor para a Globo é um mero consumidor do produto futebol.
Uma semana depois, foi a vez de Flamengo e Palmeiras, no Maracanã, também pelo Campeonato Brasileiro, substituírem o épico do ano na América do Sul. O jogo até possuia seus atrativos, afinal era o jogo da afirmação do “interino” Jorginho no Palmeiras, mas também do inconstante time do Flamengo e seus inúmeros problemas internos.
Aí já foi demais! O Cruzeiro jogava a vida no Mineirão pela final da Libertadores, e o Estudiantes botava água no chopp cruzeirense. Por si só, já era fantástico!
Mas a santa audiência da Globo era a prioridade. Preferiram exibir em São Paulo o jogo entre o rubro-negro carioca e o alviverde paulista. Buscando a atenção da 3ª maior torcida de São Paulo, a do Palmeiras, juntamente a maior do país e 5ª entre os paulistas. Resultado: final da Libertadores em São Paulo, só na TV a cabo.
Enquanto isso, torcedores viram reféns de um canal de televisão pelo fato de haver exclusividade de transmissão dos torneios de futebol no Brasil e na América do Sul. Que, por sua vez, reduz o futebol a um programa de TV qualquer, com seus efeitos de imagem, apresentadores, artistas e, principalmente, seus parceiros.
Não é a toa que o futebol na Globo tem exatamente os mesmos patrocinadores da seleção brasileira. E essa relação espantosa entre o canal e a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) faz com que a segunda caminhe de joelhos perante a primeira, inventando horários lastimáveis para os torcedores que suam a camisa para poder assistir aos jogos, e que depois se virem para retornar às suas casas.
Ficamos submetidos ao horário da novela, do programa do Luciano Huck, do Faustão, o resto pouco importa.
E assim caminha o futebol brasileiro, rumo à Copa, e ao desastre.
O povo não é bobo!
Bruno Padron ”Porpeta” é bancário e, diante da inabilidade para praticar esportes, passa sua vida falando deles.