Chefe do serviço de doenças infecciosas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o infectologista Edimilson Migowski chama de centralizadora a política que o Ministério da Saúde adotou em relação à gripe suína. “Impedir que pessoas tenham acesso ao medicamento e ao diagnóstico me faz parecer que estamos num regime de exceção.” Membro da Sociedade Europeia de Infectologia Pediátrica e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações do Rio, Migowski vem sendo um dos principais críticos dessa política.
FABIANA CIMIERI
O senhor concorda com a política de só medicar os casos graves?
Tiraram o medicamento das farmácias e clínicas. Só disponibilizam para casos graves e esquecem de quem não é de risco, mas pode agravar subitamente. No início, medicavam todos os casos de H1N1, esquecendo das outras gripes. O ministério alega não querer estimular a automedicação porque pode criar uma cepa resistente. Mas o Tamiflu (oseltamivir) é tarja vermelha, só pode ser vendido com receita. Nessa lógica deveriam tirar os antibióticos das prateleiras. Ao mesmo tempo, permitem a propaganda de ácido acetilsalicílico, que não deve ser dado a crianças com gripe. Também disseram que o preço iria quadruplicar, mas é o ministério que controla o preço. Falta critério de conduta.
Há outros problemas?
A coleta de exames também está centralizada, porque a rede privada não pode coletar e enviar para o laboratório de referência. A centralização do medicamento, do diagnóstico e do processamento das amostras, em um país de dimensão continental, não é possível.
O País está preparado?
O alerta foi em abril. O ministro dizia que estava preparado e agora vemos que o País está longe de conseguir atender à toda população. Ao mesmo tempo em que o ministro diz que é uma gripe comum, propõe o adiamento da volta às aulas. A população fica doida, sem saber se a situação é grave.
Quais seriam as informações que a população deveria receber?
Teríamos que ter mais dados de incidência, saber onde estão os casos. Quando não temos a informação disponível, desconfia-se de que a situação pode estar maior do que o que estamos vendo.
O Estado de S. Paulo – 25/07/09