Por Maíra Kubik
Mais uma polêmica sobre a igualdade entre homens e mulheres ganha as ruas da França: o Ministério do Trabalho pode obrigar as empresas, em especial as públicas, a adotarem cotas de 40% para os cargos de direção. A proposta vem de um relatório apresentado hoje pela inspetora geral dos assuntos sociais Brigitte Grésy, que identificou diferenças substanciais de cargos e salários no mercado de trabalho.
Segundo Grésy, a “lógica de recrutamento [para esses postos] é quase exclusivamente masculina e não varia com o passar do tempo”. Os números reforçam o argumento: as mulheres são apenas 8% da direção nas 500 maiores empresas do país. “Há uma invisibilidade das mulheres nas instâncias de decisão”, afirma ela. E a medida para combater isso seria abrir espaço à força.
Detalhes à parte – número mínimo de funcionários, se a companhia tem ações na Bolsa etc –, Grésy explica que baseou sua idéia nas cotas já existentes para os partidos políticos – na França, eles são obrigados a apresentar certa alternância entre homens e mulheres nas suas listas de candidatos. Este seria um “passo seguinte”, em que o Estado garantiria “acesso igual às responsabilidades sociais e profissionais”, diz a inspetora.
Por si só, a palavra “cota” já gera questionamentos de todos os lados. No Brasil, a discussão foi acalorada quando essa medida entrou em vigor no ensino superior, seja para negros, seja para alunos oriundos das escolas públicas. Para alguns, é uma alternativa absurda, uma espécie de “favorecimento” de determinados grupos. Para outros, se apresenta como uma solução extremada, exagerada. Sem dúvida trata-se de uma saída desesperada: busca diminuir uma desigualdade que, durante séculos de existência, a sociedade não conseguiu superar. E que, infelizmente, ainda não tem qualquer perspectiva de resolver sem mecanismos como este.
Em relação às mulheres, o Brasil começou sua caminhada em 1996, quando o Congresso Nacional instituiu 20% de cotas – e um ano depois alterou para 30% – nas chapas proporcionais. Muitos partidos reclamaram e até hoje não se conformam: no ano passado, por exemplo, o PSC entrou com uma ação contra a lei federal. Além disso, há quem cumpra a cota pro forma, ou seja, não investe na formação de mulheres para que estas se tornem quadros políticos e possam, de fato, disputar eleições. Nomeia sem qualquer critério as suas candidatas, apenas para não ter problemas com a Justiça.
Se vingar, a proposta do Ministério do Trabalho francês pode ser um bom exemplo para aplicarmos aqui, a começar pelas companhias estatais, que devem ser um modelo. Sim, é uma medida que força, que impõe uma eqüidade não existente na prática. Sim, no Brasil nem mesmo as cotas eleitorais são levadas a sério. Mas se esperarmos que, por livre e espontânea vontade, o mundo solucione todas as diferenças, pode demorar tempo demais para que todos nós tenhamos uma vida justa. E isso simplesmente é injusto.
Fonte: Blog Viva Mulher