Por Aldo Santos
No dia 13/07/09, por volta das 17:30 estive na assembléia do acampamento dos trabalhadores sem teto, em frente a casa do Presidente da República Luiz Inácio LULA da silva, em São Bernardo do Campo.
Na assembléia, mais uma companheira foi acorrentada, pois segundo os organizadores do movimento, a cada dia uma nova pessoa seria acorrentada para demonstrar que o movimento não está para brincadeira.
Os comunicados abaixo expressam o inteiro teor da base central da reivindicação do movimento.
“Nesta quarta, dia 08 de julho, por volta das 14h, o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) realizou uma manifestação em frente a residência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo (SP). A manifestação conta com a participação de mais de 300 famílias de diversos acampamentos do estado.
Cinco pessoas passaram a noite acorrentadas em frente ao prédio do presidente.
Na manhã desta quinta-feira, o grupo permanecia no local. Guilherme de Castro, da coordenação estadual do MTST, afirmou à Agência Brasil que os manifestantes permanecerão acampados até que o governo atenda as reivindicações.
“Enquanto o governo não nos der atenção, vamos ficar aqui.”
O grupo denuncia o descaso do governo nas políticas para movimentos sociais, e a ineficiência do programa “Minha Casa, Minha Vida”. O MTST reivindica do governo:
1 – Desapropriação de terrenos ocupados pelo MTST. Em especial o terreno da ocupação Zumbi dos Palmares em Sumaré, que está ameaçado de despejo.
2 – Regularização fundiária do assentamento Anita Garibaldi para mais de 2000 mil famílias.
3 – Agilidade burocrática para as famílias do Acampamento Carlos Lamarca, a mais de 5 anos esperando resposta do governo.
4 – Participação ativa do governo federal nas negociações do MTST em todas as regiões e Estados onde o MTST está presente.
O grupo pede a solidariedade dos movimentos sociais, sindicatos e trabalhadores, convocando todos a participar do protesto”.
Além do comunicado acima, os mesmos enviaram uma carta ao presidente Lula, fundamentado e levantando questionamentos sobre a política habitacional brasileira, com o programa “minha casa mina dívida”, vez que não solucionará o problema em curso, apenas avança nas políticas de retomada do crescimento e enriquecimento dos empresários da Construção Civil.
CARTA AO PRESIDENTE LULA:“Estamos aqui porque não temos casa para morar. Representamos milhares de famílias que estão em luta por uma moradia digna. Muitos de nós estão ameaçados de despejo, outros esperam há anos a construção de casas que foram prometidas. Temos participado de negociações e mais negociações, sem que haja solução para nosso problema.
Quando foi lançado o Programa “Minha Casa, Minha Vida” pensamos que seria enfim a oportunidade de conseguirmos nossas casas. Mas o que temos visto nos desanima. As construtoras, que tanto já ganharam em cima de nosso suor, só têm apresentado projetos para pessoas de renda média e alta. As 400 mil casas que foram prometidas para as famílias que, como nós, recebem menos de 3 salários mínimos, representam apenas 6% do déficit habitacional nessa faixa. Sem contar que já há mais de 2 milhões de cadastrados no país; e isto apenas considerando os municípios que abriram inscrição. Assim, vemos nosso sonho cada vez mais distante. E, o que é pior, despejos cada vez mais próximos.
Representamos 1.400 famílias da Comunidade Zumbi dos Palmares, em Sumaré, que estão com o despejo marcado para daqui a poucas semanas, sem que o poder público ofereça qualquer alternativa. Representamos 2.000 famílias da Comunidade Anita Garibaldi, em Guarulhos, que convivem com o fantasma do despejo e não encontram perspectiva para regularização do assentamento. Representamos 160 famílias da Comunidade Carlos Lamarca, em Osasco, que há sete anos esperam suas casas, sendo jogadas de um canto a outro como animais. Representamos ainda milhares de famílias das Comunidades João Cândido, Chico Mendes e Silvério de Jesus, espalhadas por Taboão, Itapecerica da Serra, Embu e Zona Sul de São Paulo, que há vários anos esperam o cumprimento de acordos firmados para terem acesso a suas casas. E estes não são todos os casos. Nossos irmãos de Manaus (AM), Boa Vista (RR) e Belém (PA), dentre outros, têm convivido com o descaso dos despejos.
Já estivemos ao longo destes anos inúmeras vezes na Caixa Econômica Federal e no Ministério das Cidades, além de Governos Estaduais e Prefeituras. Nada se resolveu. O que temos recebido de mais concreto são despejos. Por isso, hoje estamos aqui, acorrentados, num pedido ao Presidente Lula para que resolva essa situação, para que nos ajude a evitar os despejos e conseguir nossas casas.
MORADIA SIM, DESPEJO NÃO!
São Bernardo do Campo, 8 de julho de 2009, MOVIMENTO DOS TRABALHADORES SEM-TETO”.
Na citada assembléia os apoiadores presentes usaram a palavra para expressar o efetivo apoio, externar a solidariedade e assumir as tarefas aprovadas pelo movimento.
Usei a palavra na tentativa de encorajá-los ainda mais pela brilhante luta que está chamando a atenção da opinião publica brasileira, dado a disparidade entre os que tudo tem e os que lutam por um lugar ao sol, onde seus direitos estão cada vez mais distantes do mundo real.Na mina fala, relembrei a aniversário da ocupação Santo Dias que no próximo dia 18 de julho completará 6 anos da maior ocupação urbana que tenho conhecimento na História do Brasil, pois, chegou a reunir 7 mil participantes. Foi uma ocupação duríssima, com repercução internacional e ao final fiquei com três processos nas costas que até hoje estou respondendo por ter participado ativamente naquele movimento ao lado dos sem tetos do município.
A ocupação em frente a casa do Presidente, em são Bernardo do campo é simbólica, uma vez que a denúncia dos mesmos no município, é na prática uma denúncia do próprio déficit habitacional da cidade que hoje está em torno de 60 mil moradia. Entendemos que o governo federal tenta desviar a atenção sobre o déficit habitacional, ao tentar transferir o problema para os bancos e prefeituras com prestações a perder de vista. A experiência demonstra que se o governo entrar com a terra, o munícipe constrói suas casas em mutirão , conforme inúmeras experiências que existem nesse sentido.
Nessa assembléia, marcamos uma reunião para ampliar o leque de apoio e luta , bem como, articularmos um ato político no dia 15/07/09 as 17 horas na praça da matriz da cidade.
Saí da o acampamento profundamente entristecido, pois o cenário do acampamento é típico da contradição da luta de classe. De um lado a riqueza, os grandes prédios; os carrões passando na rua movimentada da Prestes Maia e na calçada ao lado, um mundo de lonas pretas, pessoas com pés no chão, mas com uma saúde ideológica que faz inveja a muita gente que vive na militância e ou na opulência.
Nossa reflexão relacionada ao déficit habitacional de SBC, combinado com a manifestação, nos remete ao debate e a indagação sobre o espólio do acampamento Santo Dias, uma vez que na ocasião o próprio CDHU fez mais de três mil cadastros na área e até hoje, não deu retorno aos sem tetos que freqüentemente os encontramos na cidade, ansiosos para a retomada da luta que serviu pelo menos para questionar e denunciar a concentração de riquezas, terras e sobre o papel da propriedade privada no sistema capitalista .
Na reunião do dia 14/07/09, às 17 horas na subsede da APEOESP, contamos com a presença de importantes lideranças do movimento: PSOL , APEOESP, PSTU, PCB , o JOTA pelo MTST e a MARIA das Dores militante do MTST, que liderou os sem teto recentemente em Mauá. Nessa reunião, mediante os informes dos avanços que ocorreram por parte da atuação firme do movimento, optamos em não realizar o ato marcado. Rapidamente nos despedimos, pois os mesmos foram para o acampamento em frente à casa do LULA,enquanto eu fui para a escola Palmira, entregar as notas dos alunos e participar do conselho participativo da referida Unidade escolar.No próprio dia 14 no site do MTST consta o seguinte esclarecimento:
“Avisamos a todos que foi aberto um canal de diálogo entre o Governo Federal e o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). Nesse momento dirigentes do movimento estão em negociação com a Secretaria da Presidência da República.
Por conta do início das negociações, não confirmamos o acorrentamento de mais um companheiro. Contudo, caso o Governo não dê a devida atenção as reivindicações do MTST, o acorrentamento e as futuras manifestações planejadas continuarão e serão realizadas conforme nota anterior.”
Os manifestantes levantaram o acampamento com a sensação de mais uma conquista dos lutadores da classe trabalhadora.
REVOLUCIONÁRIOS DO BRASIL:
FOGO NO PAVIO!
FOGO NO PAVIO!
POR UM NOVO TEMPO DE VIDA LUTAMOS!
Toda favela tem um pouco de senzala!
Todo camburão lembra um navio negreiro!
Toda ocupação tem um quê de quilombo!
Quero ocupar os latifúndios mentais que a desinformação cultiva
Quero plantar conhecimento em toda mente improdutiva
Quero colher resultados em forma de arte e educação
Minha guerrilha é cultural
– VIVA A REVOLUÇÃO!
(Por Serginho Poeta)
Quem Luta conquista; Junte-se a Luta..
Aldo Santos é sindicalista, membro do Diretório Nacional e Presidente do Psol de São Bernardo do Campo.