Por Mariana Tamari
Fica cada vez mais claro para o conjunto da população mundial que vivemos uma das mais graves crises econômicas da história moderna da humanidade. À ela soma-se a hecatombe ambiental, que por sua vez ameaça a sobrevivência dessa mesma humanidade e traça perspectivas bastante obscuras para o próximo período. O quadro é grave e exige respostas imediatas.
Mas não são quaisquer respostas que estão à altura da resolução desta crise. A análise da totalidade dos problemas, aliando a questão social, política, econômica e ecológica é a única saída da previsão de caos num futuro não tão distante. É o que pensam Michael Löwy, diretor do Centre National de la Recherche Scientifique da França, e Edmilson Rodrigues, do PSOL-PA, que participaram, na última terça-feira (23/06), de debate organizado pelo diretório municipal do PSOL de São Paulo realizado na sede da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial de São Paulo).
A amplitude da crise global e seus reflexos no mundo e, mais especificamente no Brasil, foram os temas discutidos pelos debatedores. Para Edmilson, ex-prefeito de Belém do Pará, sua cidade natal, e doutorando da faculdade de geografia da Universidade de São Paulo, enfrentamos a necessidade de dar uma resposta que abarque a crise de forma totalizante. Seus diversos aspectos (econômico, financeiro, ambiental, social e político) se refletem de distintas maneiras nos diferentes setores sociais e, como sempre, os que mais sofrem são os mais pobres. Com uma ampla bagagem acumulada em sua experiência como governante de uma cidade extremamente pobre (que era ainda mais pobre quando de sua gestão) e a partir do contato com a realidade dos povos amazônicos e sua luta, Edmilson apresentou exemplos concretos das conseqüências da crise econômica sobre a população menos favorecida. “O trabalho informal que distribui CDs e DVDs a preços populares e democratiza o acesso a obras produzidas pela indústria cultural é um exemplo de contra-hegemonia. É o hegemônico produzindo o contra-hegemônico e sendo enfrentado por ele.”
Já Löwy falou sobre o conceito de ecosocialismo. Ele ressaltou que vivemos uma crise da civilização capitalista ocidental e que a gravidade da situação do meio ambiente reflete a irracionalidade deste sistema. Lembrando que um dos maiores problemas ecológicos hoje é o aquecimento global ele acusou o capitalismo, e não o ser humano, de ser o responsável pela crise ambiental. “O processo do aquecimento global se agravou nos últimos 150 anos. Antes disso, a emissão de gases do efeito estufa era muito menor. Dessa forma, não podemos dizer que a culpa é do ser humano. É a forma irracional de produção capitalista que agrava esses problemas, nos levando ao limite”, disse o pesquisador francês. Ele afirma que as perspectivas são bastante obscuras e que apenas uma mudança estrutural e sistêmica radical poderão nos salvar da catástrofe. “É preciso mudar a matriz energética e alterar o sistema de transporte. Precisamos mudar radicalmente nosso padrão de consumo, nossa relação com o meio ambiente e com os outros, com nossos próprios desejos. Mas com a urgência da situação essa mudança não basta dentro dos padrões capitalistas, que são insustentáveis dentro de sua lógica. A frase de Rosa Luxemburgo é cada vez mais atual, pois vivemos claramente o dilema: Socialismo ou barbárie”, concluiu Löwy.
Fonte: Site do PSOL da Capital www.psol50sp.org.br/capital