Na última semana, o conflito entre estudantes, professores e funcionários com a Polícia Militar dentro do campus da USP causou consternação dentro e fora dos muros da universidade. A alegação da reitoria é a garantia da propriedade e da ordem contra uma “minoria radical”, incapaz de respeitar o Estado de Direito. Esta não é a primeira vez que o argumento do Estado de Direito é avocado contra uma manifestação legítima. E também não é a primeira vez que é usado sob pretexto de atacar aqueles que se organizam para lutar por seus direitos.
Infelizmente, a recorrente presença do aparato repressivo para enfrentar desde protestos de moradores e greves de trabalhadores a manifestações de sem-terra e sem-teto vem se tornando o primeiro recurso de governantes e dirigentes de importantes instituições para enfrentar a questão social.
Na USP, acusam uma “minoria” de não ouvir ninguém, de fazer reivindicações descabidas e sem nexo e de recorrer à violência como forma de se manifestar. A reitoria procura desqualificar, recusar o direito à fala, para justificar pelo uso da força o enfrentamento da greve. Com isso impede a solução do impasse e agrava ainda mais a ausência de diálogo, que deveria ser sua principal responsabilidade.
Apontam que a PM entrou no campus para proteger o patrimônio público e garantir o livre trânsito daqueles que querem trabalhar. Ora, jogar bombas em frente a creches, perseguir estudantes e professores dentro de faculdades, invadir prédios tombados é proteger o “patrimônio público”?
Ausência de argumentos
Nestes últimos anos, a falta de argumentos é o argumento da reitoria. Esta é a segunda vez em menos de dois anos que a Polícia Militar entra nos campi da USP. Esse é um grave precedente a ser veementemente repudiado, sob o risco do retorno a práticas autoritárias encobertas sob o manto da “defesa da democracia”. Quem negocia com o cassetete na mão dentro de uma instituição de ensino e pesquisa perdeu todos os argumentos.
Em segundo lugar, o governo estadual precisa assumir definitivamente suas responsabilidades no episódio. Serra lava as mãos e deixa a crise se agudizar. Propõe a ampliação do ensino à distância, através da UNIVESP, o que vai precarizar ainda mais o ensino e a formação dos alunos nas universidades públicas paulistas. Orienta sua bancada (veja quadro) a impedir que se procure uma mediação negociada diante do impasse desta que é mais uma crise da USP no seu governo.
Em terceiro lugar, cresce entre estudantes, funcionários e professores o sentimento de que não há condições para a permanência da atual reitora à frente da instituição. A reitora transformou uma discussão trabalhista em caso de polícia e divide a universidade sem nenhuma disposição de diálogo. A USP tem uma estrutura de poder das mais autoritárias. Por um complexo mecanismo de disputa, menos de 1% da comunidade acadêmica é responsável pela escolha do reitor. Esta estrutura autoritária e centralizada é a raiz que originou esse divórcio entre a direção da instituição e a comunidade acadêmica. Agora querem separar ainda mais a universidade, procurando criar dicotomias entre os seus cursos e suas categorias. É preciso modificar essa estrutura que confere amplos poderes a uma pequena burocracia acadêmica.
O mandato do deputado federal Ivan Valente (PSOL/SP) se solidariza com os professores, funcionários e estudantes da USP. Os acontecimentos que hoje paralisam a universidade devem ser vistos não apenas como afeitos à comunidade acadêmica. O que acontece na USP diz respeito ao país. E por isso demanda a solidariedade e o apoio de toda a sociedade.
Por que os tucanos não quiseram a comissão externa?
No mesmo dia em que ocorria a repressão à comunidade acadêmica na USP pela Polícia Militar, o deputado Ivan Valente protocolou na Câmara dos Deputados a instalação de uma comissão externa para acompanhar a crise na universidade. O presidente da Câmara pôs a matéria em votação. Mesmo com as cenas em cadeia nacional, a bancada tucana obstruiu a sessão e impediu o quorum necessário para sua instalação. Por que os tucanos e Serra lavam as mãos e fingem que o problema não é com eles? Tratam a universidade como “caso de polícia” e não querem que a sociedade possa acompanhar de perto o assunto.
Do site do deputado Ivan Valente – www.ivanvalente.com.br