Professores, funcionários e estudantes reivindicavam retirada da PM do campus e reabertura das negociações. No confronto, a PM usou bombas de efeito moral e balas de borracha contra os manifestantes
A invasão da Universidade de São Paulo (USP) pela Polícia Militar (PM) gerou seu primeiro incidente mais grave no dia 9. No final da tarde, funcionários, professores e estudantes em greve caminhavam em direção à reitoria para realizar uma assembleia quando foram atingidos por bombas de efeito moral e balas de borracha.
Segundo Magno de Oliveira, do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), o confronto começou após provocações feitas por três PMs a algumas manifestantes. Logo após a atitude, uma funcionária teria sido agredida por um policial e os militantes reagiram. O estudante de Geografia, João Victor Pavesa, conta que, a seguir, a Tropa de Choque perseguiu os grevistas e lançou bombas de efeito moral em 300 pessoas, que correram para se refugiar no estacionamento localizado em frente ao prédio da História e da Geografia, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).
No meio da ação, foram presos dois funcionários: o dirigente do Sintusp, Claudionor Brandão, e Celso Luciano Alves da Silva. O estudante José Ailton Dutra Júnior também foi detido.
Polícia no campus
Antes da ação violenta praticada no dia 9, a invasão da PM no campus Butantã da USP já tinha sido o principal estopim da paralisação de professores, estudantes e funcionários. De acordo com o professor Otaviano Helene, presidente da Associação de Docentes da USP (Adusp), a decisão da reitora Suely Vilela de chamar a PM para dentro da universidade acabou virando-se contra ela, porque desencadeou a paralisação dos professores e alunos no dia 5 de junho – os funcionários já se encontravam em greve desde 5 de maio.
Além disso, frente ao posicionamento da reitora, os alunos também passaram a pedir sua saída do cargo e eleições diretas para novo reitor.
Impasse
Para Aníbal Cavali, diretor de imprensa do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), a reabertura das negociações dependerá “muito da capacidade de mobilização dos três segmentos da USP”.
Em relação à única reunião de negociação desde o início da greve, Cavali explica que não houve avanços com a reitoria da universidade. Segundo ele, a discordância se deu em torno do reajuste salarial proposto pelo Cruesp de 6,5%, que não foi aceito pelas assembleias dos sindicatos.
Tanto funcionários como professores defendem um reajuste de 10% para reposição de perdas salariais, tendo como base o ano de 1989, e 6,1% referente à inflação dos últimos 12 meses, além da incorporação do pagamento de R$ 200 à remuneração mensal para redução das diferenças entre o maior e o menor salário – ponto esse acertado entre o Fórum das Seis e o Cruesp em 2007 e que ainda não foi cumprido.
“Para recuperar o poder aquisitivo que nós tínhamos em 1989, a gente precisaria de um reajuste da ordem de 40% nos salários. Note que, recuperar o poder aquisitivo de 89 ainda seria pouco, porque de 89 para cá a renda per capita aumentou muito”, explica Helene, da Adusp.
Ensino à distância
As três categorias também se unem em protesto contra o projeto do governador José Serra (PSDB) de criação da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), que dará formação superior, através de aulas semipresenciais, a professores de ensino médio que já lecionem, e posteriormente abrangerá outras áreas. A primeira turma a ser formada é do curso de licenciatura em ciências e o vestibular já está marcado para o dia 2 de agosto.
Stéfano Azi Neto, da direção do Diretório Central de Estudantes (DCE) da USP, afirma que, ao contrário da propaganda do governo de que o projeto visa a ampliar as vagas nas universidades estaduais, a Univesp contribuirá para “a precarização do ensino”.
Para ele, a criação da Universidade Virtual tem como objetivos o barateamento dos custos com a educação e a promoção do governador José Serra em sua campanha eleitoral para presidência em 2010. “Esse projeto é bastante legal para o governo porque, por um lado, economiza com os custos da universidade e, por outro, mostra que abriu vagas, que expandiu o acesso à universidade”, alega Neto.
A mesma opinião é compartilhada por Cavali, que ressalta que os servidores da USP defendem “que o acesso seja ampliado com um ensino de qualidade e presencial”. Nesse sentido, a pauta unificada pede a aplicação de políticas voltadas à permanência estudantil na universidade, com amplo financiamento em infraestrutura, concessão de bolsas-auxílio e disponibilização de moradia aos alunos que necessitem.
Fonte: Michelle Amaral – Brasil de Fato