Uma pesquisa da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) divulgada nesta terça-feira (12) mostra que apenas 6% das pessoas mortas entre 12 a 20 de maio de 2006, semana posterior à onda de ataques do PCC no Estado de São Paulo, tinham antecedentes criminais. Nesta terça, o conflito entre o grupo criminoso e a força pública estadual completa três anos. O episódio, que fez a população paulista vivenciar o pânico coletivo, deixou um saldo de 493 mortos.
A pesquisa realizada pelo laboratório de Análise da Violência da UERJ foi feita com base em todos os boletins de ocorrência registrados durante aquela semana, comparados com laudos cadavéricos e laudos periciais. O levantamento aponta também que 70% dos mortos tinham apenas até o primeiro grau. Outro dado importante é que 96% das vítimas eram homens, sendo 80% menores de 36 anos, ou seja, demonstram uma maioria de jovens entre os assassinados.
“O nosso levantamento apontou que a maioria das vítimas tinha baixa escolaridade e pouca periculosidade, afinal, uma pequena porcentagem tinha um passado de crimes”, analisou Ignácio Cano, que chefiou a pesquisa da UERJ, que mostrou também que os número de mortes quadriplicou naqueles dias em relação à média de homicídios do Estado de São Paulo.
Os dados foram divulgados nesta terça na sede do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo), no bairro paulistano da Vila Mariana. Além do órgão médico, que levantou inicialmente o total de 493 mortos durante os ataques do “maio sangrento”, ONGs, Defensoria Pública, Ministério Público, o Conselho Regional de Medicina e entidades de direitos humanos se reuniram para lembrar a maior crise policial da história do Brasil.
Os manifestantes pediram a federalização dos processos alegando que poderia haver acobertamento na instância estadual, já que mais de 60% dos casos foram arquivados até agora.
“Queremos federalizar os processos e também levar o caso para o presidente da ONU”, afirmou Débora Maria da Silva, mãe de uma das vítimas mortas pela polícia. Na Baixada Santista, ela lidera um grupo de 17 mães de jovens assassinados.
A mesma opinião é compartilhada por Heloisa Machado, coordenadora da ONG Conectas, que dá assessoria jurídica a dois casos de chacina durante aquela onda de violência. “O Estado de São Paulo não foi capaz de elucidar. Então é hora da Polícia Federal tomar conta dos casos. Se a PF não assumir, levaremos esse extermínio à Corte Interamericana de Justiça”, afirmou – essa corte é ligada à OEA (Organização dos Estados Americanos).
Em comunicado à imprensa, a secretaria de Segurança Pública afirmou nesta terça que os casos envolvendo o episódio já foram relatados à Justiça, enquanto outros estão sendo investigados.
O conflito
Uma série de transferências e interrogatórios de presos importantes foi o estopim para os atentados promovidos pelo PCC em maio de 2006. O indulto para o Dia das Mães, dado a 12 mil detidos, foi o momento escolhido – muitos saíram com a missão de metralhar delegacias e incendiar bancos e ônibus. A sexta 12, o sábado 13 e o domingo 14 viram uma progressão de ataques a agentes e a prédios públicos. No total, os bandidos mataram 46 pessoas, entre PMs, policiais civis, guardas municipais, agentes penitenciários e familiares.
O fim de semana aterrorizador foi sucedido por uma segunda-feira com boatos de “toque de recolher”. A cidade de São Paulo conheceu um megacongestionamento no meio da tarde de quem queria se esconder em casa do pavor. Gente correndo na rua, comércio fechado, estudantes dispensados.
Na noite do dia 15 começou a reação. A ação de forças do Estado, fardadas ou não, resultou no que pode chegar a até dez pessoas por cada baixa sofrida.
A Ouvidoria da Polícia de São Paulo juntou indícios de ação de grupos de extermínio com participação policial, num total de 54 casos com “características de execução sumária” e outros 48 de “resistência seguida de morte”, para os quais a Secretaria de Segurança Pública não deu maiores esclarecimentos. Já o Comando Geral da PM afirma que faz investigação administrativa em todas as suspeitas de homicídios em que seus agentes estão envolvidos.
Fonte: Uol Notícias