por Edson Miagusko
Milhares de trabalhadores saíram às ruas de São Paulo para protestar contra as demissões, pela manutenção e ampliação de direitos, pela redução dos juros, redução da jornada de trabalho, sem redução de salários, em defesa do emprego e pela reforma agrária.
O ato foi organizado por todas as centrais sindicais (Intersindical, Conlutas, CTB, CUT, CGTB, CGT, UGT, NCST e Força Sindical), entidades estudantis (UNE, DCE´s e CA´s), MST, MTST, MTL, Pastorais Sociais, movimentos populares e partidos políticos, como o PSOL, PSTU e PCdoB.
Em várias cidades do país aconteceram paralisações de empresas, passeatas, bloqueios de rodovias, no primeiro ato nacional em resposta à crise.
Logo pela manhã, começaram as atividades de paralisação e protesto. Rodovias foram paradas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto, metalúrgicos do Vale do Paraíba entraram com atraso no trabalho, em Campinas houve a paralisação da principal rodovia que dá acesso à cidade, na Baixada Santista a militância somou apoio à greve dos petroleiros.
Mas, foi em frente ao prédio da FIESP que saiu a principal manifestação do dia. 10 mil manifestantes com bandeiras, camisetas, faixas se concentraram na FIESP, seguiram na Avenida Paulista em direção ao Banco Central e desceram a Consolação, terminando o trajeto na Praça Ramos.
Em frente ao Banco Central, Ivan Valente representando o PSOL apresentou pontos de uma plataforma para unificar os trabalhadores no enfrentamento aos efeitos da crise: não às demissões, defesa dos empregos e dos salários, redução radical dos juros, controle de capitais, fim do superávit primário. Também defendeu a instalação imediata da CPI da Dívida Pública.
A crise chegou com força ao Brasil
Dois fatos demonstraram uma alteração na conjuntura imediata neste início de ano. O primeiro foi a chegada da crise com toda força ao Brasil. Os dados apontam que de novembro para cá ocorreram mais de 800 mil demissões, a queda no consumo das famílias e a retração dos investimentos das empresas. Todos os setores da economia foram atingidos pela crise, comprovado recentemente pela queda do PIB em 3,6%.
O segundo fato foi a construção de um dia nacional de lutas e mobilização unificado com todas as centrais sindicais, entidades estudantis, MST e partidos de esquerda sob a consigna “Os trabalhadores não pagarão pela crise”.
Quem conhece a diversidade das entidades e as posições conflitantes que convocaram o ato sabe que a unidade não foi fácil. E que o risco era do ato se transformar em algo gelatinoso, ficando apenas numa pauta genérica que não explicitasse os principais encadeamentos da crise, suas responsabilidades e uma pauta capaz de dar consistência à mobilização dos trabalhadores.
Apesar de não ser um ato de oposição, o governo não foi poupado de críticas e estas se expressaram na contradição da palavra de ordem chave do ato. Se os trabalhadores não devem pagar pela crise, Lula não pode dizer que em tempos de crise é necessário que todos devam perder e que “com desemprego, ninguém pode exigir aumento de salários”.
Talvez essa contradição explícita na consigna do ato fez com que o governismo expresso pelo PT ficasse apagado, com baixa participação, disperso e sem visual. A própria CUT mobilizou menos que a Força Sindical.
Isso mostra que pode haver um espaço à esquerda que deve ser ocupado com respostas à crise do ponto de vista dos setores populares. A crise também expõe as entidades alinhadas ao governismo a maiores contradições junto aos trabalhadores.
A iniciativa do ato nasceu num seminário promovido no Fórum Social Mundial por Intersindical, Conlutas, MTST, MTL, Pastorais Sociais e diversos lutadores sociais. E se somou a outra iniciativa proposta pela Assembléia dos Movimentos Sociais, encabeçada pelo MST. O estopim começou apenas com essas entidades e provocou um deslocamento que unificou as principais organizações de trabalhadores do país no dia nacional.
PSOL participou do ato com destaque
O PSOL participou do ato com destaque. O partido concentrou esforços em São Paulo, além de se somar à ação de seus militantes sindicais e dos movimentos populares, o que fez com que em várias regiões, como em Campinas e na Baixada Santista, houvesse paralisações em categorias e atos em rodovias, antes da vinda para a capital paulista.
O PSOL entrou com uma enorme faixa com os dizeres “Os trabalhadores não pagarão pela crise”, além das bandeiras e da defesa da instalação imediata da CPI da dívida pública.
Unidade para colocar a classe em movimento
O dia 30 foi o primeiro ato nacional após o início da crise. Ainda foi uma ação que moveu a estrutura das organizações sindicais e populares e algumas categorias chave. E foi uma primeira reação a onda de demissões promovidas pelas empresas para jogar o custo da crise nas costas dos trabalhadores.
Mas, foi uma ação de grande importância que não deve ser desprezada. Primeiro por colocar setores da classe em movimento para dar uma resposta política à crise, não apenas localizada e de caráter nacional. Segundo, porque num cenário de fragmentação dos trabalhadores em várias organizações, o ato conseguiu unificar setores conflitantes numa pauta avançada. Terceiro, porque mostra que mesmo na base das centrais governistas há tensões decorrentes da perda de empregos, diminuição de salários e perda de direitos que já atinge em cheio uma parcela da classe trabalhadora e que provocam ações de mobilização em resposta a esse quadro novo.
Ainda é cedo para dizer a real disposição dos trabalhadores em se mobilizar para enfrentar os efeitos da crise. Demissões e desemprego são elementos que desorganizam os trabalhadores e têm o efeito de criar medo, desconfiança e receio de lutar. É nisso que apostam os empresários que ganharam na alta e procuram cortar custos na baixa, a partir das demissões e ameaças aos direitos. E também é o que aposta o governo. O dia 30 foi uma primeira reação na direção contrária.
Também há diferentes visões nas organizações sindicais e populares que vão desde um pacto com os patrões para enfrentar a crise, chegando a propor redução de direitos em troca de manutenção dos empregos ou uma defesa incondicional do governo Lula, desconsiderando que a política econômica executada é responsável por tornar o país mais vulnerável diante da crise econômica mundial.
Os próximos passos darão as respostas e um bom teste futuro será no primeiro de maio.
Em toda luta é necessário um estopim. Quem sabe o dia 30 de março não teve esse significado?
Uma plataforma para enfrentar a crise
Além da unidade para colocar a classe em movimento será necessário avançar numa plataforma dos trabalhadores para enfrentar a crise. O PSOL vem buscando construir essa plataforma comum com outros setores em luta, cuja essência está na resolução da Executiva Nacional do Partido de dezembro passado.
No Rio de Janeiro no próximo dia 2 será feito um ato do PSOL para apontar saídas para a crise e de solidariedade ao delegado Protógenes Queiroz, perseguido por sua ação contra o banqueiro Daniel Dantas.
Uma plataforma, para ter conseqüências concretas, também precisa de uma candidatura que expresse esses anseios. E pelas alternativas apresentadas até agora, tanto Dilma quanto Serra, são duas faces de um mesmo projeto para enfrentar a crise.
Há um espaço potencial a ser ocupado por uma candidatura alternativa que encarne uma saída de esquerda, do ponto de vista dos trabalhadores. E o principal nome que desponta, conforme todas as projeções de opinião, é o da presidente nacional do PSOL, a companheira Heloísa Helena.
Edson Miagusko é da Executiva Nacional do PSOL