Por Carlos Cesar Buono e Marcio Funcia
O “país do futebol” novamente ganha as manchetes do mundo. Contudo, infelizmente, não por seu
desempenho dentro das quatro linhas, que segue medíocre desde há muito tempo. Mas por, mais
uma vez, ser o centro de uma decisão completamente equivocada durante a maior crise sanitária
global. E não, não estamos falando de imunidade de rebanho, da negativa por compra de vacinas ou
da defesa débil da cloroquina ou afins. Estamos falando da realização de um campeonato
continental de seleções, num país que demandará enormes deslocamentos das delegações e que
enfrenta, nesse momento, mais uma escalada nos números de casos e mortes por conta da COVID-
19.
A competição que se pretende começar no próximo dia 12 de junho estava marcada para ocorrer no
ano passado, tendo a Colômbia e Argentina como sedes. Porém, devido à pandemia, a disputa
continental foi adiada para esse ano, por haver um entendimento de que, nesse período, havia a
possibilidade de controlar os impactos sanitários e socioeconômicos causados por ela.
Agora, a menos de 15 dias do início da competição, as duas sedes – Colômbia e Argentina –
declinaram da realização do torneio por razões distintas: a Colômbia enfrenta uma convulsão social,
por conta de uma proposta nefasta de Reforma da Previdência, parecida com a que houve no Brasil,
e a Argentina passa por um momento de crescimento de casos de COVID-19 – hoje a Argentina beira
os 3.5 milhões de casos e 75 mil mortes.
Com a desistência dos países-sede, muitos lugares foram cogitados para a realização da Copa
América – Chile, Europa, Austrália, Estados Unidos etc. Por óbvio, nenhum deles aceitou o desafio,
por mais que suas campanhas de vacinação estejam bastante aceleradas e os números de casos,
internações e óbitos estejam dentro de marcos aceitáveis e, ousamos dizer, controlados.
No momento em que a decisão de adiamento se fazia mais provável – e razoável – a CONMEBOL,
numa jogada de “mestre”, aliou seu ímpeto (ou desespero) financeiro à sanha necropolítica e
negacionista de Bolsonaro e da CBF, e oficializou que o Brasil será a sede dessa infeliz e totalmente
desnecessária competição. Apesar de não estarem definidos os estádios e cidades envolvidos,
qualquer decisão nesse sentido é, no mínimo, temerária.
O Brasil é o segundo país no mundo com mais casos e óbitos registrados. São mais de 16 milhões de
casos e mais de 460 mil mortes. Só neste ano temos mais 7 milhões de casos e 260 mil mortes. Esses
números de guerra só demonstram o quanto nosso país não faz a lição de casa no combate à
pandemia. E, enquanto o mundo prega o distanciamento social como a principal medida de
contenção da propagação do vírus, o Brasil convida toda a América Latina para visitar nossa gentil,
servil e hospitaleira casa.Enquanto vemos diversos países iniciando processos graduais de reabertura em condições sanitárias
muito mais seguras, nosso Governo Federal atua como se tivesse na COVID seu principal parceiro
econômico. Não compra vacinas, defende a utilização de medicamentos reprovados pela
comunidade científica, luta contra o isolamento social e aumenta a fome e a pobreza com um
arremedo de auxílio-emergencial.
Diante desse cenário trágico e caótico – e com a previsão de uma terceira onda da pandemia à
espreita – é inaceitável a ideia do Brasil ser sede de quaisquer eventos dessa natureza. Sobretudo
quando se trata de uma atividade que não é, nem de perto, essencial e que promoverá enormes
deslocamentos de grandes contingentes de pessoas e potencializará aglomerações, não resta uma
sombra de dúvidas.
Bolsonaro, a CBF e a Conmebol cometem mais um grave crime contra a saúde pública. Muito mais,
um crime contra a humanidade, que resultará na ampliação do genocídio que já promovem em larga
escala no Brasil!
Nesse momento, o que precisamos, o que urge, é comida no prato e vacina no braço. NÃO VAI TER
COPA (AMÉRICA)!