A sociedade vem sendo vitimada por uma profunda desumanização em suas relações. O crescimento do hedonismo, individualismo ombreiam com uma violência insana, que não raro pertubam o cotidiano em Camaros ou Porches que atropelam indiferentes pedestres, na matança silenciosa que se disfarça em uniformes da lei ou não lei nas periferias paulistas e brasileiras, na expropriação realizada com incêndios “acidentais” em áreas de interesses “nobres”, etc.
Estas relações mesquinhas denunciam um profundo mal estar civilizatório, como bem mostrava Marcuse.
Nesse cenário chamam atenção os festejos nababescos realizados em frente e (principalmente) dentro da Casa Branca com a notícia do assassinato de um homem velho, indefeso, doente por uma tropa de elite. Os risos, beijos abraços eram a senha de um carnaval macabro onde muito mais que uma pseudo justiça, a massa rude e de pensamentos imberbes, exigia sangue aos berros de USA,USA,USA!
Superamos essa tristeza, pelas cenas caóticas do assassinato de um filho de Kadafi (não envolvido no governo) e de suas crianças. Tiros ao ar, risos e danças…Destinavam seu elogia e elegia a mais um espetáculo patético na cidade de Benghasi e na imprensa do mundo livre (de pensamentos críticos).
Não saciados, Kadafi, preso e ferido após um dos 50 mil bombardeios “humanitário”, com urânio resfriado da OTAN, é linchado, sodomizado e por fim, friamente morto por jovem de 14 anos com o boné dos yankees ou por “revolucionários” mercenários narcotraficantes colombianos, ou por todos estes, ao mesmo tempo. Pouco importa!
Importa aqui, que setores de esquerda observaram certo regozijo nesse espetáculo funesto. Como sendo a “vitória do povo” ou a vitória da dita “primavera árabe da Líbia” (sic), estúpida avaliação, que não nos deteremos nela – HOJE – .
Mas resolvemos, mais uma vez, tomar da pena quando vemos os mesmos setores, exibirem a mesma ética frente a doença de Lula.
Se parece comum ver políticos reacionários, conservadores ou apenas oportunistas tecerem seus desejos através de seus porta-vozes como Lúcia Hipólito, Arnaldo Jabor, Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, Merval Pereira… ou ver o repique na forma de comentários postados na imprensa por seus diletos leitores, tudo isso nos parece desumanamente natural.
Mas ver setores de esquerda se somarem a esta conduta parece que o “mal estar” centrou praça nos nossos meios intelectuais e militantes. E aqui carece um bate papo.
Não se trata de um humanismo de ocasião. Mas sim de imaginar que um projeto socialista, feito por socialistas não pode conter no seu germe a mesma pré-história que denunciava Marx em Critica da Economia Política ou o risco da barbárie anunciada com a crise da social democracia em Rosa de Luxembugo.
Isso seria a perda de (nosso) projeto humano, seria a perda de uma capacidade interior que nos faz diferentes e superiores moralmente aos nossos inimigos de classe. Seria na verdade: a derrota de um projeto libertário e socialista.
O projeto socialista é por certo a construção de um novo ideário de ser humano, um projeto por si, ético-moral, onde a figura da tortura, da opressão, do machismo e do sadismo desumano e burguês não se coaduna com a liberdade humana e com igualitarismo que postamos.
A ética socialista impõe um contraponto na atitude. Um socialista não é machista, homofônico, racista ou compartilha alegria na destruição da vida, mesmo de seu inimigo.
Tanto Mariátegui e Lenin pensaram o socialismo como um gesto grande, algo que seria capaz de sinalizar a humanidade um novo rumo e tempo; uma nova conduta, desenvolvida no estudo e na atitude. A violência é assim, pensada como auto-defesa do fraco frente a reação dos espoliadores.
Torcer pela morte de Lula, para um burguês faz parte de sua essência de guerra e destruição amiúde ou em massa, pela sua banalização das relações de poder ou ainda, pelo seu ódio a origem proletária de Lula.
Nenhum burguês mandaria um colega de escola, de clube ou de origem como Tancredo, Covas, Sergio Mota, Alencar procurar o SUS, nenhum jornalista da imprensa burguesa proporia esse arroubo. Se um sindicalista ou líder comunitário o fizesse, estaria desrespeitando a “liberdade” essencial do ser humano poder escolher o produto que lhe convier a seu preço, ou seja, estaria desrespeitando o mercado e as suas vidas.
Estaria desrespeitando a dor dos familiares e amigos. Estaria desrespeitando a dor “burguesa” que a Pátria sente ou deveria sentir!
Para a grande imprensa burguesa, a doença de Chaves, Lula, Fidel…são doenças que lembram coisas públicas, sociais: em essência: a hereditariedade proletária.
É a doença de um senador que derrubou um aliado burguês, de coronel que nacionalizou o petróleo, de um operário que apresentou uma plataforma –timidamente – soberana.
Neste universo de ódio de classe, nenhuma timidez popular, mesmo que seja apresentada na forma de renda compensatória, é tolerada.
O ingênuo militante social, que expressa esse desejo soturno, não compreende que movimentos sindicais, popular ou estudantil desprovidos de um projeto de transformação geral da realidade, são apenas movimentos coorporativos que menos hora, mais hora, se acomodará num cargo de dirigente sindical, popular, estudantil, de deputado ou mesmo presidente da República.
O ingênuo ativista social que veste a morte, como aliado na luta de classe, não sabe que pode se matar um corpo, mas as idéias devem ser superadas por outras idéias, caso contrário viram mitos, e mitos não envelhecem!
Lula foi apenas um sindicalista que flertou em certo momento de sua vida com o socialismo, tal qual, outros dirigentes sindicais, sociais e estudantis de ontem e de hoje. Tal qual o PT! E que, como qualquer movimento social, alargou o Estado, permitiu novas acomodações ao mundo burguês, novos agentes e massas sociais na defesa da ordem social dada.
E hoje, como qualquer novo rastaqüera vitorioso, tem o direito de tratar-se onde quiser. E, diga-se de passagem, teria boas referências e bons profissionais também no SUS, mas com certeza “furaria” a fila – e prejudicaria – pessoas que não tem as alternativas de nosso ex-presidente.
A moral socialista nos permite denunciar a violência nas portas das favelas, das escolas, nas ruas das cidades. No SUS. Permite-nos denunciar a maior das violências: a do homem explorado por outro homem e por um sistema explorador.
Superação dessa ordem, são será dará por um golpe de estado, pela morte de um Atahualpa, exigirá compreender as classes sociais, suas frações e as lideranças dentro dela.
Somar força aos reacionários (neo) liberais, apenas reforça o preconceito contra aquilo que o burguês e as classes médias reacionárias vêem em Lula, a origem proletária, ou seja, seria somar forças contra nós mesmos.
John Kennedy Ferreira
Sociólogo e professor
Militante da Refundação Comunista – e – Filiado democraticamente ao PSOL