Pronunciamento do deputado Ivan Valente no plenário da Câmara em 2/8/2011
“Senhor Presidente, senhoras e senhores Deputados,
Na última sexta-feira, dia 29 de julho, nosso mandato entrou com uma representação ética junto ao CONAR (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária), com pedido de liminar para suspensão da campanha “Sou Agro”, veiculada amplamente nos meios de comunicação nacionais. A campanha procura transmitir a idéia de que o agronegócio é importante para as famílias brasileiras. Mas, na verdade, trata-se de uma pesada estratégia de marketing do setor para construir uma nova imagem perante à sociedade brasileira, desgastada em função do debate sobre o novo Código Florestal e pelo aumento da percepção da população acerca dos males causados ao meio ambiente por este modelo de desenvolvimento agrícola e agrário.
A campanha exibe dois reconhecidos artistas da televisão brasileira – Lima Duarte e Giovanna Antonelli –, que de alguma forma empresam sua credibilidade ao agronegócio. As peças publicitárias, no entanto, omitem do telespectador, ouvinte ou leitor quais as empresas responsáveis pela iniciativa. Apenas por dois segundos, ao final das peças veiculadas na TV, aparece a sigla ABMR&A, cujo significado sequer é apresentado.
Na verdade, Senhor Presidente, os verdadeiros responsáveis pela campanha são empresas como a Cargill, Bunge, Vale, Monsanto e Nestlé, além de diversas associações corporativas que atuam na área, como a Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso, a Associação Brasileira de Celulose e Papel e a União da Indústria de Cana de Açúcar. Qual a razão dessa omissão? Por que o cidadão brasileiro está sendo privado de seu direito à informação? O que está por trás desta prática?
Nossa representação ao CONAR destaca exatamente esta questão, já que a campanha como um todo desrespeita normas que regulamentam a veiculação de publicidade em território nacional. Segundo o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, toda propaganda deve ter seu anunciante identificado de forma ostensiva, e a campanha “Sou Agro” ignora este aspecto.
Por isso, pedimos a imediata suspensão da campanha, via liminar, até sua adequação ao Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária. Não é possível silenciar diante de mais um abuso do poder econômico do agronegócio, que agora pretende criar uma imagem de “bom moço” para a população brasileira, através de ampla campanha publicitária, tentando apagar da história de que trata-se das mesmas empresas e grupos que defendem a grilagem de terra, são contra a PEC do trabalho escravo e estão ligados à violência no campo.
Esperamos uma pronta resposta do Conar, em nome do direito à informação da população brasileira e de um debate público efetivamente transparente em torno desta pauta.
Muito obrigado.
Ivan Valente
Deputado Federal PSOL/SP