Tempestades, enchentes, temperaturas extremas, raios, secas prolongadas, escassez de água, poluição. Todos os efeitos nocivos das “ilhas de calor” urbanas sobre o clima serão exacerbados pelo aquecimento global nos próximos anos, segundo especialistas reunidos por três dias em São Paulo para discutir o efeito das mudanças climáticas sobre a vida nas cidades.
Herton Escobar
“A Defesa Civil precisa ser fortalecida, porque vai ter muito trabalho daqui para frente”, avisa a geógrafa Magda Lombardo, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro, especialista em clima e planejamento urbano.
As discussões ocorrem no âmbito da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais (Rede-Clima), criada em 2008 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) para subsidiar políticas públicas sobre o tema. O primeiro encontro foi na semana passada, no Rio, e o segundo, nesta semana, na sede da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Foram os primeiros passos para identificar os riscos – e soluções – que as mudanças climáticas trarão para as regiões metropolitanas das duas capitais. “A mancha urbana é um enorme experimento de mudanças climáticas e adaptação”, diz o especialista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
As ilhas de calor formadas pela urbanização, segundo ele, já alteram o clima local de maneira significativa – aumentando, por exemplo, a ocorrência de tempestades e a concentração de poluentes atmosféricos. “Temos de somar os efeitos do aquecimento global a tudo isso que já está ocorrendo”, afirma Nobre. “Na maioria dos casos, a situação vai piorar.”
A mancha urbana de São Paulo já é, em média, 3 °C mais quente que o entorno. Nos dias de muito calor, a diferença pode chegar a 12 °C, segundo Magda.
AMEAÇAS
No Rio, as principais ameaças previstas pelos pesquisadores são o aumento do nível do mar – que poderá comprometer várias praias – e os deslizamentos de encostas ocupadas por favelas, por causa do aumento da ocorrência de tempestades.
São Paulo deverá sofrer com mais enchentes, no verão, e secas, no inverno. “O grande problema para São Paulo é água”, afirma Magda. “Por causa do calor, as chuvas vão ficar mais concentradas (na forma de tempestades) e vão cair mais no centro da cidade, e não sobre os mananciais, que é onde se precisa delas para abastecimento.”
A concentração de poluentes sobre a região metropolitana também será exacerbada, assim como os efeitos nocivos da poluição sobre a saúde da população. “Os piores impactos sempre acabam desembocando na saúde pública”, aponta Magda.
O Estado de S. Paulo – 24/7/09